sábado, 26 de novembro de 2011

pretérito imperfeito


lembro de você
no meu quarto
todos os dias
toda minha
toda nua
teu sorriso
tuas pernas
teus seios
teus lábios
teu umbigo
tão sexy
e tão pura
te colocava na parede
te olhava
te cobria
te venerava
masturbava-nos
e nus novamente
nos imaginava
te gozava
e quando você caía
te recolocava
no alto da minha parede
altar de prazeres
e novamente me deliciava
te tocava
na praia
ou no deserto
do poster da revista
deitado na cama
ou no lago
da inquietude
daquela juventude
onírica e molhada
a vida árida
coração líquido
alma libido
sonhos e desejos
de tardes de infinito

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sexcelsior















se do amor tudo surge
surge especialmente o sexo
mesmo sem nexo
convexo ou retilíneo
público ou escondido
inédito ou com tédio
e até com rancor

doce ou venenoso
com gosto ou disgosto
no frio ou no calor
mas é sempre gostoso
até com odor
do sexo pode surgir tudo
até o amor

domingo, 9 de outubro de 2011

The Night Has A Thousand Eyes















Ao som de John Coltrane

a cada sol 

de cada dia 

morto que cai

a noite revela 

um rosto

esconde seus punhais

um para cada morte

seus mil olhos 

se abrem

essas bocas vulgares

voyeurs sedentas

piscando sorrisos

sussurrando olhares

penetrando os ouvidos   

de cada virgem lua

cada alma na rua

deixando uma mensagem

- O dia só tem um olho, 

eu tenho todos,

Carpe Noctem... 

sábado, 17 de setembro de 2011

Meteoritos (ou migalhas do pão universal)











entre um salto quântico e a dança no vácuo
sob o maior silêncio já encontrado
entre asteróides bêbados e satélites estressados
atravessei a Milky Way sem olhar o semáforo
atrasado para ver o parto daquela nova estrela
que já chegou ao quarto
crescente, nos braços e seios de uma nebulosa 
mãe-constelação acolhedora e radiosa 

*

se somos feitos de cordas
segundo a teoria
ainda sou violão desafinado
tocando acordes dissonantes
serei ainda uma guitarra Gibson
em voos-solos cortantes?

a vida seria então uma partitura
cheia de escalas e lacunas
notas e cifras complexas, indeterminadas
uma sinfonia cósmica inacabada, eterna
e regida por um maestro sem batuta?

*

outros físicos dizem que além de cordas
o cosmos tem membranas
multiversos flutuantes, multidimensões entrepostas
cada membrana é um universo
cada universo um objeto orgânico de mesma substância  
cada universo é como um pão
de massas e sabores diferentes
num café da manhã estelar
e em cada fatia, uma dimensão existente
não há dentro ou fora, miolo ou casca
seriam os deuses astronautas
tomando pingado numa padoca cósmica?

*

teorias e relatividades à parte 
senhores Copérnico, Galileu, Newton, Einstein
da metafísica à física quântica
me importa mais a quantidade de gravidade
na dinâmica e mecânica dos corpos carnais aos celestes
quantos gravitons e magnétons são necessários
para que dois leigos se atraiam
e ocupem por um momento o mesmo espaço-tempo
e caiam, vertiginosos como meteoros 
mas amortecidos por uma cama desavisada?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O amor nos tempos da web












1.0

Ele a curtia todos os dias
quando visualizava seu perfil
acompanhava atentamente as postagens,
vídeos, álbuns de fotos,
mudanças de avatar
e deixava comentários espertos

Começaram a conversar
primeiro pelo chat, google talk,
depois pelo skype
horas e horas teclando confidências
viram a casa de um e do outro pelo street view
Marcaram um encontro
num lugar localizado pelo google maps

2.0

E então ficaram de repente
sem conexão
ela se sentiu como um modem desplugado
ele não lhe dava mais atenção...

Ela esperava ele aparecer, olhando da janela aberta
do MSN
mas ele sempre estava ocupado ou ausente
tantas mensagens offline não respondidas
quantas frases poéticas, versos de música, Ctrl C+Ctrl V

Beijusss, Bjos, Bjs, S2, reticências...
sorrisinhos de pontuação :) e carinhas amarelas sem expressão
era difícil encontrar um emoticon
que representasse o sentimento à altura
da espera, da angústia, da resposta, solidão
Nem as cutucadas e estocadas de carinhos, tuitadas melancólicas,
retuítes de sentimentos alheios mas tão seus
Depoimentos, DM's, declarações diárias subliminares no fotolog
Onde estava o amor? O quê era o amor?

3.0

Ela procurou no google
pois nem o yahoo tinha muitas respostas
E entre o wikipedia, os blogs e o tradutor
inúmeras definições:

"[Do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa: amor ao próximo; amor ao patrimônio..."

 "Amor é quando alguém te magoa, e você, mesmo muito magoado, não grita, ... "Amor é como uma velhinha e um velhinho que ainda são muito amigos..."

o amor é paciente
o amor é benigno
o amor é filme
o amor é contagioso
o amor é assim
o amor é outra coisa 

Gostou mais dessa que viu no Citador: 

"Amor é fogo que arde sem se ver, 
é ferida que dói, e não se sente; 
é um contentamento descontente, 
é dor que desatina sem doer."

Era de um tal de Camões.
E mesmo sem muito entender 
curtiu e compartilhou.
"Será que cabe em 140 caracteres?", ela logo pensou.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Tantas Letras 1



Vidas em vãos


Enquanto o trem da vida passa
as pessoas estão preocupadas em pegar o metrô
subir e descer a escada com pressa
o bilhete carregado para a batalha diária
os comentários do futebol de ontem
as contas para apagar amanhã
o ponteiro do relógio troteando com calma
enquanto o trem de aço não passa

Entre o vão do trem e a plataforma
vidas são lançadas
entre pãos de queijo, latas, embalagens plásticas
suicidas
para baixo ou para dentro do vagão
dentre portas automáticas e vozes robóticas
entre solavancos, cegos e mancos
a pressa, o destino, o trabalho, o patrão

Enquanto a estação de metrô não chega
o retrato da cidade escorre pela janela
algum pensamento passa
pelo camelô correndo do guarda
pelo fone do player ou a música no celular
pelo assento preferencial
que um jovem magro e sadio ousou sentar
a vida não parece tão bela

Enquanto o trem da vida passa
as pessoas estão preocupadas em pegar o metrô
depois de meia hora dormida ou acordada
a estação chega
preocupações continuam
a pressa é a mesma
o metrô dinamiza o transporte
encurtando distâncias
pensamento
não há tempo
só minutos
a espera
entre o vão,
o trem
a plataforma
e nada mais
importa

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Microconto 6 - O amor é um torpedo



14:26 -
Oi amor, tdo bem? Ja cheguei na casa da praia. Naum ta calor, mas faz mormaço. Vai ser mto bom passar esse fds com vc, Beijos, te amo d+


16:38 -
Amor, decidi dar uma volta no calçadao. Ta cheio de gente nos quiosques. To tomando um sorvete e pensando em vc. Como tá o trabalho? Q horas chega aki? Te espero, bjos. Te amo s2


18:23 -
Amor, vc tá recebendo meus torpedos? Ta com raiva de mim? Já disse pra gente esquecer aquilo. Vem pra ca, vamos recomeçar. Te espero, beijos, te amo mto


20:35 -
Estou tomando caipirinha agora. Penso no q aconteceu e tenho vontade de chorar. O mar está lindo, acho q vou entrar nele. Vc vem? Nao me odeie por favor, te amo tanto...


Baseado em mensagens que recebi um dia por engano no meu celular. Infelizmente não pude responder e avisar, pois meus créditos tinham acabado.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Microconto 5



Rodava com seu táxi pelas ruas da vida. Sempre em alta velocidade, tentava driblar o trânsito e encontrar atalhos para satisfazer a pressa dos passageiros.

Levava sempre uma arma embaixo do banco, “para se defender da bandidagem”, dizia. Mas talvez seu rosto carrancudo já fosse o suficiente.

Já não saía mais nas folgas, nem para beber o uísque da madrugada, nem a cerveja do domingo no boteco da vila. As damas do amor pago também já não lhe arrancavam mais sorrisos.

A bandeira dois de seu peito já não era acionada há muito tempo. Era divorciado.

E de tanto conhecer a cidade, os caminhos para qualquer lugar ou lugar nenhum, tantas pessoas, tantos destinos, um dia perdeu-se de vez.

O itinerário para chegar a si mesmo nem sempre é fácil de se lembrar. E não há asfalto, mapas ou placas para facilitar.

domingo, 29 de maio de 2011



vontade louca de cravar

meus desejos

na carne do seu pescoço

e das coxas

arranhar seu dorso

molhar seu ouvido

salivando palavras

esguichando escárnios

fazer odes ao seu rosto

cantar as melodias

do seu corpo.

mas você não está aqui

talvez em outro lugar

me pergunto

onde seu cheiro

foi parar?

meio ultra-romântico...



...e meio bobo, ingênuo, mas eu gosto dele. É de 2008. Ah, as paixões, sempre nos inspirando...

carvão

de choro embotado em lágrima
feito ferida estancada em sangue
ardem os olhos em brasa
impedindo que eu os arranque

veio súbita como a morte
a chama fez do corpo um abrigo
não quero que ninguém se importe
só a sombra queimará comigo

nada sai ileso da espada e dos braços
desse terrível anjo sereno que veio
restam apenas os pedaços
de um amor quebrado ao meio

o ego cimenta a angústia
desilusão é tijolo duro
massa corrida de lamúria
ergo dentro de mim um muro

o corpo é o carvão da alma
que o consome em gozo nas piras
de luxúria, da paixão e do nada
o coração se afoga nas c
inzas

quinta-feira, 5 de maio de 2011

On the road, again


Aqui vou eu, mais uma vez

com os pés no asfalto quente

a estrada se insinuando

à minha frente

passo após passo

respirando a poeira que se fez

A cabeça erguida

os ombros ainda pesados

dos últimos fardos

a bagagem acumulada

de viagens passadas

a despedida, a chegada

ficaram nas estações,

nas curvas, nos acostamentos

da vida e mediações


Seguir à próxima parada

próxima montanha, desfiladeiro

rochedo

praias, ilhas

um remoto vilarejo

o próximo encontro

rumo ao desconhecido e além


Aqui vou eu, mais uma vez

caminhando, cantando

flertando, sonhando,

sozinho

ou acompanhado de alguém


Sem mapa

sem mala

sem placa

sem destino

sem origem

só a miragem

só a vertigem

só o vento como carona

o sol como bússola

a lua como guia

rumo ao desconhecido e além

quinta-feira, 3 de março de 2011

Chris

Esse vc já leu, foi o que eu humildemente te dei no seu aniversário.
Descanse em paz, como nunca antes descansou. Seja feliz como sempre e como nunca dantes foi... e me olhe, me acompanhe e me ilumine com seu brilho.
Te amo e te levo pra sempre comigo, até o fim da minha vida.
Beijos e mais beijos, daqueles que só nós demos...
Saudade....


...


Quando nosso lábios conjugaram
o verbo beijar
faíscas logo se espalharam
e começaram a queimar
o pavio da nossa dinamite

Essa TNT (Tu-Nós-Tesão)
foi explosão sem limite
de destruição
braços e pernas de napalms verticais
devastação
de planos etéreos
e círculos infernais

Copos, risos, noites, beijos
trocados, molhados
doses de alegrias e dores
sempre em excessos
nosso corpos rimam
mais líricos que versos

Nosso livro é poema em prosa
romance de comédia e drama
páginas com espinhos e perfume de rosas
semeadas de paixão em nossas camas

Nossa música tem estilo misturado
sou samba-jazz-bop suingado
você é salsa, merengue e hard rock pesado

Corpo de serpente sibilante
preparando o bote final
encanto de olhar lancinante
sorriso de beleza letal

Mas sua meninice
sua alegria
sua fantasia
que brutos e putos sufocaram
ou tentaram
É o que mais me encanta em ti
você me faz sentir
melhor do que sou
me faz ver
me faz crer
me faz ser
me faz feliz
desde que que te conheci
Chris...

Para Christiane de Souza Costa (1970-2010)